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Respeitar o mandato de Jean Wyllys significa considerar 145 mil pessoas, que o elegeram

No meio da maior crise econômica, política e social vivida no país desde a redemocratização, está sendo gestado mais um ataque à democracia no Congresso Nacional. Entre dezenas de denunciados em escândalos de corrupção e de ligação com o crime organizado, alguns parlamentares ameaçam punir com uma inédita suspensão o deputado federal Jean Wyllys (PSOL), justamente um dos poucos mandatários que não está envolvido em “perigosas transações”.

Jean foi eleito por três vezes seguidas, pelo site de notícias “Congresso em Foco/ UOL”, como o melhor deputado federal do país.

A desculpa alegada, como se Wyllys não tivesse sido atacado desde o primeiro dia em que pisou no Congresso, é de que ele cuspiu na direção de um deputado defensor da tortura e da ditadura militar, no momento em que este, durante a votação do impeachment da presidente Dilma, o xingava de “veado” e “queima-rosca” repetidamente.

Quem suportaria?! Que pessoa, mediante xingamentos ostensivos, reiterados, conseguiria se controlar?

Na história da Câmara dos Deputados, somente uma única vez um deputado teve uma suspensão aprovada. Tratou-se de um parlamentar acusado de ligação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e com o crime organizado em Goiás. A pena foi de 90 dias, menor do que a solicitada inicialmente para Jean, que é de 120 dias. É notório que os verdadeiros motivos são a orientação sexual de Wyllys e sua defesa dos direitos das minorias. Seu mandato incomoda.

A celeridade da punição a Jean frente a outros tantos casos flagrantes de quebra de decoro não deixa dúvida sobre o verdadeiro caráter desse pedido. Enquanto o processo contra o réu da Lava-Jato Eduardo Cunha (PMDB) se arrastou durante meses, com uma série de manobras, o caso do parlamentar do PSOL está tendo um tratamento relâmpago!

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É irônico o fato de que o próprio deputado que se diz vítima de uma agressão de Wyllys, um cuspe que não o acertou, responde no Conselho de Ética a mais de uma dezena de processos, que ainda estão aguardando decisões. Em um deles, a acusação é de apologia ao estupro, quando o mesmo disse sobre uma deputada: “Ela não merece ser estuprada porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria.”

Respeitar o mandato de Jean Wyllys significa considerar 145 mil pessoas, que o elegeram democraticamente. Significa respeitar o povo brasileiro, que é plural e composto não só de homens brancos, mas também de mulheres, negros, LGBTs, imigrantes, indígenas e minorias religiosas. Querem calar um de nós, mas nossas vozes são mais fortes do que o preconceito.

Renato Cinco é vereador no Rio (PSOL)