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ENCONTRO REUNINDO MORADORES, MILITANTES DO PARTIDO E PARLAMENTARES SINALIZA A CONSTRUÇÃO MAIS MADURA DE UM MOVIMENTO DE FAVELAS NECESSÁRIO E IMEDIATO PARA O PARTIDO E SUPORTE PARA AQUELES QUE SÃO COTIDIANAMENTE ATINGIDOS PELA VIOLÊNCIA EM SEUS TERRITÓRIOS – ASSISTA AO VÍDEO NA ÍNTEGRA, NO FINAL DA MATÉRIA.

O que era para ser um ato no Largo da Carioca não deixou de ser também um encontro muito importante para as lutas das favelas carioca e a própria popularização do PSOL. Por causa do tempo instável, a atividade “Nossa Luta Tem Voz – Ato contra o extermínio e a militarização da vida” acabou acontecendo no gabinete do deputado federal Chico Alencar. O objetivo foi a troca de informações entre moradores de favelas, militantes e parlamentares do PSOL, além da projeção de ações futuras para a questão da violência nas favelas cariocas e a organização de um setorial do partido exclusivamente dedicado a essa causa.

NESTA QUARTA, 24, TEM ATO NA MARÉ A PARTIR DAS 13H – CLIQUE PARA SABER MAIS.

Estavam presentes movimentos sociais de favela, representantes de Jacarezinho, Maré, Manguinhos, Rocinha, Cantagalo, Providência, Andaraí e Chapadão, além de baixada fluminense e zona oeste. Eles expuseram aos núcleos, aos militantes do partido e aos parlamentares do PSOL Chico Alencar, Eliomar Coelho e Marielle Franco, as inquietações, as tristezas e a alegria da favela durante quase duas horas de falas que foram assistidas por cerca de 24 mil pessoas, em vídeo transmitido ao vivo pela página do PSOL Carioca no Facebook – conheça!

Psol favelas visu
Para Paloma Gomes (Núcleo Manguinhos-Jacarezinho), mediadora da atividade ao lado de Rumba Gabriel, o espaço serviu como um encontro para a favela discutir sobre a violência vivida cotidianamente e para inserir de forma mais evidente a favela no dia-a-dia do PSOL. Apesar de abraçar as pautas de opressão na prática, por exemplo, com a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj, comandada pelo deputado Marcelo Freixo e também, na militância, promovendo debates e batalhando ao lado daqueles sofrem na pele preconceitos e violências, o partido tem sua atuação nas favelas muitas vezes invisibilizada por rótulos de elitista ou acadêmico.

Enquanto educadora, Paloma se preocupa bastante com o que as crianças, em especial, vivenciam quando estão presentes em situações de violência, vendo a mão do estado lhes suprimir direitos e liberdades. Além disso, constata a ausência histórica de políticas públicas para a favela, “a gente não tem saneamento, não temos asfalto, nem transporte. Somos surpreendidos o tempo todo, sem aviso, com as ações da prefeitura, intervindo no trânsito, às da polícia, tirando vidas e trazendo terror diário”, relata. A moradora de Manguinhos teve uma amiga, que também é professora, atingida por bala perdida há poucos dias. Ela está internada no hospital geral de Bonsucesso desde então e nada foi dito ou publicado sobre sua situação na mídia convencional. Apenas os parlamentares do PSOL comentaram o ocorrido em suas redes sociais e se dispuseram a acompanhar o caso – uma ponte que está sendo construída entre a comunidade e os mandatos. Paloma reclama da invisibilidade que a imprensa e o governo dão às pessoas atingidas pela falsa guerra às drogas.

– A mira na verdade é para qualquer um. O morador é o tempo inteiro desqualificado, chamado de vagabundo. Mas são as nossas vidas que estamos aqui colocando em pauta. Por isso, estou aqui nesse espaço, para falar sobre isso e dar início a uma construção coletiva sobre e pela favela.

“Quilombo urbano é um local de resistência. Zumbi não tá morto, Zumbi tá ressucitado. Lá no Jacarezinho foi um palco histórico de resistência política e social. Foi a única favela do país que tinha dois diretórios políticos”, inicia a fala Rumba Gabriel, do “Quilombo” Jacarezinho. Segundo Rumba, no Rio de Janeiro chegaram mais de milahres negros que se dispersaram pelo território da cidade, construindo e germinando as favelas, os quilombos urbanos, locais de resistência e construção cultural. Providência, Jacarezinho, Mangueira, Salgueiro e por ai à fora, muita memória afetiva, de luta e resistência que ficam por vezes esquecidas, deixadas de lado por conta da necessidade de sobrevivência e também, pela opressão/omissão/invisibilidade do estado e de partes da sociedade. “Elas têm uma história de luta que deve ser passada às pessoas que ali vivem para que entendam o porquê de nós estarmos ali. O porquê que nós ainda somos executados, se somos nós que movemos esse município, estado e país. E tem muita gente que se assusta quando dizemos que lá (favelas) são quilombos e não, senzalas. Por que lá, é lugar de resistência. Nós só estamos sobrevivendo e hoje, já somos vários favelados negros universitários, porque nós somos da resistência” – afirma com veemência e lugar de fala.

“O que essa mulher negra aqui quer, é que não morra nenhum filho dessas mulheres”

Mônica Cunha, coordenadora e fundadora do Movimento Moleque, movimento de mães de jovens detidos por atos infracionais, trouxe a realidade daquelas que ficam órfãos de seus filhos, mortos pela violência policial nas favelas. Seu filho, Rafael, foi morto em uma operação no morro do Borel. Para Mônica, estar junto na construção política de um movimento de favelas é muito importante para de fato tentar diminuir essa triste realidade, pois acredita que a representatividade que se afirma nesse encontro é de quem sofreu e conhece a dor da perda de um ente para as mãos do estado.

– Meu filho se tornou autor de ato infracional aos 15 e foi assassinado aos 20. Ele se chamava Rafael da Silva Cunha. Gostaria de sair com meu filho, tirar onda com ele ao meu lado, mas o estado não me permitiu isso, não me deu esse prazer. Estar aqui e pensar sobre a segurança pública me fez refletir que ela até existe, mas não existe para nós. Para negro não existe, ainda não chegou. Infelizmente, ainda não podemos falar como é isso.

“Nos nossos territórios, onde nos reunirmos para cantar e produzir arte, precisamos de autorização. Precisamos de autorização dos capitães do mato”

William de Caxias trouxe para o encontro a realidade da baixada, mas que também é vivida nas favelas do Rio. A criminalização da cultura é um dos fatores que mais revoltam a juventude periférica e favelada. Apesar de uma criativa produção, a repressão do estado controla e impede a realização de eventos nesses territórios, cerceando a liberdade e a expressão, principalmete, da cultura jovem e negra.

– Assim como o funk, os principais movimentos que ocupam a periferia como o hip hop, o rap e o grafite vêm sendo duramente reprimidos. Mais especificamente, o rap – a palavra cantada pela resistência, contra a dor, contra o fuzil. Ele vem sendo duramente atacado. Uma resolução da secretaria estadual de segurança exige autorização da polícia para que acontece uma roda, para que jovens se juntem e façam arte, lamenta.

A realidade da favela está escondida pelo preconceito latente na sociedade criada e informada para uma elite que vê nesse território mão-de-obra barata e local de incômodo. A mídia tem papel fundamental na construção de atributos negativos, muitas vezes gerados pelas péssimas políticas apresentadas por aqueles que representam interesses econômicos e políticos diversos dos que lutam cotidianamente para a reversão desse quadro perverso e que tem endereço, gênero e cor. Por isso, a organização política das várias realidades é o caminho para que a voz embargada na dor da perda e da falta de esperança possa soar com outros ares, com resistência, luta e expressão.

O Partido Socialismo e Liberdade acredita na necessidade de escuta e ação. Escutar as vozes silenciadas e a partir de suas necessidades, desejos e criatividade, agir em prol da troca de informações e de ações que possam no mínimo constranger o estado assassino e preconceituoso, que não só mata preto, pobre e favelado todos os dias, mas se utiliza de pretos, pobres e favelados para fazê-lo. Mas essa realidade há de mudar. Marielle Franco, cria da Maré, mulher negra e de favela, hoje é vereadora na cidade do Rio e um exemplo e passo determinante para a transformação da representatividade e das ações públicas nesses territórios. Acompanhe as próximas ações do grupo para a formação de um Setorial de Favelas do PSOL Carioca. Em breve, mais informações. Abaixo, o encontro na íntegra: