Achamos que é a comunidade escolar (ou seja, pais, mães, educadores) que tem que decidir quem serão os diretores
Tudo bem, você não costuma receber cartas. Talvez você, no auge dos seus 14 anos completados em 2027, jamais tenha recebido uma. Mas como é difícil saber qual a rede social que vai estar na moda daqui a dez anos, vou te escrever desse jeito meio antigo para satisfazer uma grande curiosidade da gente daqui de 2017: como é que é a sua escola?
Você estuda em uma sala que não é superlotada, tem ar-condicionado e fica pertinho da biblioteca? É o pessoal que vive o dia a dia da escola que decide quem vai estar na direção dela? Você notou se os seus professores têm tempo e condições para preparar a aula? Ah, sim… e sobre seus amigos? Você vê colegas sendo alvo ainda de zombarias e agressões por conta das suas roupas, cabelos ou jeito? Dá pra falar na sala de aula sobre os preconceitos que uma boa parte das pessoas ainda sofre ou a ordem geral ainda é fingir que ninguém está vendo nada?
Desculpe tantas perguntas. Sou professor há mais de 20 anos. Além disso, sou vereador em 2017 do Rio de Janeiro e estou decidindo, com mais 50 parlamentares, a educação que queremos para os próximos dez anos na cidade. Estamos fazendo um plano, chamado Plano Municipal de Educação. Na verdade, ele está pronto, mas eu, meus colegas de partido e vários profissionais de educação achamos que, do jeito que está esse plano, a escola pública de amanhã pode ser até pior do que a de hoje. E olha: a de hoje não é boa, não.
Vou te dizer o que a gente do PSOL está pensando para melhorar o tal plano de educação, e depois você me manda uma resposta dizendo o que achou. Anote aí. A gente quer mais dinheiro para a educação pública e mais transparência — moedinha e gambiarra não ajudam em nada, né? Nós também achamos que é a comunidade escolar (ou seja, pais, mães, educadores…) que tem que decidir quem serão os diretores e como eles ou elas vão atuar. Outra coisa: vamos propor que a avaliação de cada espaço de educação leve em conta a realidade ao seu redor. Bom, também não dá para falar em uma escola melhor sem melhorar o trabalho de quem está na sala, na portaria, na cozinha, nos corredores. Se você soubesse como esses mais de 55 mil profissionais são desvalorizados hoje, acho que você nem acreditaria. E, finalmente, a gente quer que pátios e salas de aula sejam lugares para debater o mundo; afinal, as crianças também fazer parte dele.
Acabei nem perguntando seu nome, mas não tem problema — essa carta poderia ser para qualquer um das centenas de milhares de estudantes da rede municipal do Rio. Diga para eles que vários de nós não estamos só curiosos para saber como é a escola do futuro. Estamos também lutando muito para construir essa escola de forma que ela seja boa, gratuita e aberta a todos. Por que lutando? Porque só a luta muda a vida, seja em 2017 ou em 2027.
Por Tarcísio Motta, vereador do PSOL Carioca – Originalmente publicado em O Globo