Nos últimos anos, a política do PSOL em relação aos direitos humanos e ao respeito às favelas criou raízes importantes em meio à guerra do estado à população desses territórios. Agora, militantes e moradores de favelas iniciam a formação de seu Setorial de Favelas, Morros e Comunidades.
Leia o manifesto de criação:
MANIFESTO DE FAVELAS, MORROS E COMUNIDADES DO PSOL –CARIOCA
Favela é lugar de resistência, lugar de luta, lugar de refúgio. Surgiu para esta finalidade, abrigar guerreiras(os) fortes, que nunca desistiram de dar o grito por suas liberdades e direitos.
O povo da Favela, durante muito tempo, foi negligenciado pela burguesia, mesmo como mão de obra. A necessidade de se manter no poder, acabou por transformar as pessoas de classe baixa em subalternos, desqualificados e sem acesso a direitos básicos.
O que pode ser observado é que o mesmo quadro permanece, ainda nos dias atuais e desde sempre. Nada foi feito para reparar os danos causados historicamente a essa população trabalhadora pobre, negra e periférica. Entre quem mora na Favela, as mulheres e LGBTTQI´s são ainda mais discriminados(as) e explorados(as).
São tantos os erros, descasos, falta de humanidade, que geram o aumento da violência e extermínio. Não é dada a devida importância à vida do povo preto, Favelado, de baixa renda e em muitos casos em situação de forte vulnerabilidade social.
A nível de conjuntura nacional, vivenciamos o colapso do fim do ciclo petista e de seu governo de conciliação de classes, assistimos a um golpe na democracia.Isso desencadeou uma série de retirada de direitos dos/as trabalhadores/as e da juventude que tem características de ataque. Podemos ver que nas favelas e periferias dessa cidade, que lutamos para ser nossa, a luta ainda é sobretudo pelo direito à vida. Infelizmente fica muito difícil o diálogo com o poder público, ou seja, o Estado é o maior responsável pelas vidas perdidas numa guerra suja. A política de segurança pública do Rio de Janeiro não considera na prática os moradores das favelas como cidadãos com direitos. Não aceitamos ser reféns, nem alvos do mercado de armas de fogo que o governo insiste em alimentar. Até quando viveremos em territórios de exceção a margem do estado democrático de direitos?
Não devemos e não vamos jamais naturalizar operações policiais em horários escolares, tão pouco a ocupação ilegal de nossas casas. Não aceitaremos depender dos mandos e desmandos dos comandantes da PMRJ que sacrifica sem o menor pudor, nossas atividades culturais, como por exemplo o nossos bailes populares, jogos e demais atividades de educação, cultura, esporte, e lazer. Muito menos naturalizar a ação da polícia que mata primeiro e, covardemente, diante de abuso de autoridade escancarado, só depois pergunta.
Diante disso, como garantir a vida nas Favelas, morros e comunidades no Rio se vivemos a precarização mortal de nossos direitos?
A resposta vem da seguinte reflexão óbvia: não precisamos de fuzis e caveirões apontados para a juventude Favelada, negra e pobre. Até porque não podemos aceitar de maneira alguma a criminalização das favelas e de seu povo, mediante essa farsa de guerra às drogas, que é guerra aos Favelados. Essas drogas não são produzidas na periferia e muito menos as armas. Existe um envolvimento muito maior do que o apresentado como justificativa para o extermínio da população preta e pobre. Exigimos os direitos constitucionais à saúde, à moradia, ao saneamento básico, à educação de qualidade, e à segurança de fato.
A relação com nossos governantes e representantes parlamentares têm que vir da humanização das relações, estreitando cada vez mais a escuta, para então serem vozes representativas em suas respectivas posições governamentais. E assim, através dessa escuta sobre os reais problemas históricos que as desigualdades sociais fomentam nas periferias da cidade, agirem na soma dessa luta.
Mesmo com tudo o que foi dito, a periferia não deixa de sonhar, de manter viva a utopia que alimenta o acordar de cada morador/a desses becos e vielas de nossa comunidade. A utopia é a fonte que mantém as Favelas vivas. As favelas não são culpadas de terem sido colocadas como um problema social, o que até poderia ter outra leitura, a de que a burguesia para se manter em seu pedestal de privilégios como classe dominadora, sustenta esse tal “problema social”, chamado de Favela.
A cada perda, a cada direito negado, cresce a vontade de mudar, aumenta a garra de lutar, gera mais força para continuarmos ocupando nossos lugares na história, lugares esses mais que merecidos e que necessitam de reconhecimento. Em cada Favela existe uma forma diferenciada e única de responder a essa sociedade injusta, sua verdadeira face, que não corresponde a que querem nos impor. Existe ainda muito amor, solidariedade, companheirismo, alegria e cultura. Resistimos porque as vidas das Favelas importam!
Setorial de Favelas do PSOL Carioca