Por Jean Wyllys, deputado federal pelo PSOL RJ
PERMANÊNCIA DO TEMER NO GOVERNO APESAR DAS DENÚNCIAS CONTRA ELE; DINHEIRO ILÍCITO DE GADDEL VIEIRA LIMA ENCONTRADO EM ‘BUNKER’ E POSSÍVEL FECHAMENTO DA UERJ: O QUE UNE ESSES FATOS?
Duas notícias de hoje, aparentemente não relacionadas, deveriam contudo ser entendidas como duas faces da mesma moeda. Uma aconteceu em Salvador, mas terá um forte impacto em Brasília. A outra aconteceu em Brasília, mas poderá provocar uma tragédia no Rio de Janeiro. Ambas têm como protagonista principal o PMDB e como vítima a população brasileira.
No bairro da Graça, área nobre de Salvador, longe da periferia onde passei minha juventude, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca num apartamento usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, integrante do círculo íntimo de Michel Temer, e achou dezenas de caixas e malas cheias de dinheiro.
Em depoimento à justiça, o doleiro Lúcio Funaro (ligado a Eduardo Cunha, arquiteto do golpe) tinha declarado no final de agosto que encontrou várias vezes com Geddel no aeroporto de Salvador e entregou a ele várias malas com aproximadamente 20 milhões de reais de propina. Na conversa gravada por Joesley Batista com o presidente golpista, o empresário pergunta a Temer com quem deve resolver tudo “agora que Geddel foi preso” e Temer responde que o novo interlocutor é o deputado Rocha Loures, que depois foi filmado recebendo… malas cheias de dinheiro!
Todas as peças se encaixam.
Enquanto isso, na esplanada dos ministérios, aqui em Brasília, uma funcionária do presidente golpista, a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, assinou um parecer recomendando ao governo do estado do Rio de Janeiro uma série de medidas para “solucionar” a calamidade provocada pelos governos de Cabral e Pezão, do PMDB, que deixaram o estado falido.
Entre as propostas, ela insinua a necessidade de fechar a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. Isso mesmo: fechar uma universidade pública! O eufemismo usado no texto é “a revisão da oferta de ensino superior”.
O que tem a ver o apartamento cheio de dinheiro em caixas de papelão e malas com o possível fechamento da UERJ? Ambas as catástrofes públicas têm como protagonista o PMDB e evidenciam as consequências de uma forma de se fazer política que está acabando com os direitos sociais da população e condenando as próximas gerações a não terem futuro, enquanto uma quadrilha de ladrões enche os bolsos sem qualquer pudor.
Uma coisa não seria possível sem a outra.
E também seria impossível sem a enorme hipocrisia dos parlamentares da base do governo, que passam a semana inteira aqui no Congresso falando sobre a corrupção (dos outros) e explicando os “sacrifícios” que o governo estaria fazendo para consertar a economia, e dos grupelhos oportunistas que deram apoio ao golpe nas ruas em nome da luta contra a corrupção. Diante da imagem pavorosa das caixas e malas de dinheiro no apartamento usado pelo “homem forte” do governo Temer, todos eles estão em silêncio!