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POR TARCÍSIO MOTTA

Sistema de transporte público no Rio foi reduzido a uma enorme catraca. É caro, ineficiente, não é interligado e não atende às regiões mais empobrecidas

Uma hora em pé, apertado entre outras pessoas, sentindo calor e pagando caro para estar ali. Se chover, piora. Se der praia, piora. Se a gasolina aumentar, piora. Se tiver festa na cidade, piora. Se tiver obras, piora. Se tiver reformulação das linhas, pasmem, piora também. No Rio de Janeiro, andar de ônibus é assim. E o motorista ainda precisa se dividir entre a direção e o troco.

Recentemente, os cariocas comemoraram a redução em 20 centavos no valor da passagem, referente a um aumento ilegal feito em 2015. Mas esta não foi a única cobrança indevida durante a gestão de Eduardo Paes (PMDB). Em 2012, o Tribunal de Contas do Município (TCM) constatou que as empresas estavam lucrando mais do que deveriam. Mesmo ciente do relatório do TCM, a prefeitura fez uma revisão tarifária de 25 centavos.

Em 2013, as mesmas companhias receberam isenção do PIS e do Cofins, mas isso não diminuiu a tarifa, apenas aumentou o lucro dos empresários. Só esses três acréscimos indevidos, que somam cerca de 55 centavos, representam o embolso de mais de R$ 2 bilhões pelas empresas. E esse valor não para de crescer.

Vimos, num desdobramento da Lava-Jato, a prisão da cúpula da Fetranspor. As suspeitas apontadas na operação vêm de longe. Não foi à toa que em 2013 manifestantes foram às ruas em repúdio à máfia dos ônibus. Falta de transparência e de fiscalização e até suspeita de formação de cartel estão em jogo nesse modelo de gestão cuja única preocupação parece ser aumentar a fortuna de empresários cada vez que alguém passa pela roleta.

A mobilidade urbana deveria ser tratada como um elemento fundamental para a garantia do direito à cidade, mas, no Rio de Janeiro, o sistema de transporte público foi reduzido a uma enorme catraca. Temos um sistema caro, ineficiente, que não é interligado e não atende às regiões mais empobrecidas.

Para averiguar a concessão de transporte público, o PSOL protocolou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em agosto na Câmara Municipal, mas, curiosamente, governistas fizeram o mesmo minutos antes, impedindo que a oposição ficasse à frente dessas investigações. Me tornei, então, suplente da CPI dos Ônibus instalada pelos governistas. Por uma ironia ainda maior, um dos titulares dessa comissão, Dr. Gilberto (PMN), foi preso por envolvimento em esquemas de propina. Por isso, virei titular na comissão que quis me afastar do assunto. É, o mundo dá voltas.

Apesar do curto período que se tem para concluir as investigações — 120 dias, prorrogável por mais 60 —, a CPI tem sido um festival de adiamentos à minha revelia. As convocações começaram a ser feitas depois de 45 dias de instalada.

Em 2013, o PSOL viu um filme parecido, quando as manobras feitas para impedir que se investigasse a máfia dos transportes eram tantas que uma CPI proposta pelo agora deputado estadual Eliomar Coelho acabou estacionada na Justiça. Mas hoje, com esquemas de corrupção escancarados, espera-se que a atual comissão pise no acelerador. Se não passarmos a limpo o sistema de transportes, piora.

Tarcísio Motta é vereador (PSOL) no Rio de Janeiro

Originalmente publicado em: https://oglobo.globo.com/opiniao/roletas-da-fortuna-21944158