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No longínquo novembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora articulou o que ficou conhecida como Intentona Comunista. Na luta contra as oligarquias, o imperialismo e o autoritarismo já presentes no governo de Vargas (1930-1945), o movimento foi uma tentativa de se fazer uma revolução popular no Brasil. Entretanto, o resultado foi opressão e morte aos companheiros e companheiras de Luiz Carlos Prestes, líder do Partido Comunista do Brasil, atual PCB.

Um ano antes, no finalzinho de novembro de 1934, nascia em Uiraúna, Paraíba, uma das mais destacadas mulheres (senão a maior) da política brasileira de todos os tempos. Em berço pobre e com enormes dificuldades, vinha para vida, a hoje deputada federal e ex-prefeita da maior cidade da América do Sul, Luiza Erundina. Essa mesma mulher em 2016, aos 82 anos, ocupou a mesa da presidência na Câmara, realizando uma das raras cenas de desobediência civil em meio à institucionalidade, e foi uma das responsáveis pela deposição de Eduardo Cunha (MBD), então presidente da Câmara dos Deputados e um dos políticos mais comprometidos com denúncias de corrupção no país.

Nesta sexta, 13 de julho, Luiza Erundina foi homenageada com o título de cidadã fluminense pelo deputado estadual do PSOL Rio de Janeiro, Eliomar Coelho. Antes da solenidade que não poderia deixar de ser na rua, durante o tradicional Buraco do Lume, a nordestina Erundina foi entrevistada, ao lado de Eliomar, pelo também deputado Marcelo Freixo. O atual pré-candidato a deputado federal iniciou a entrevista afirmando que os dois – Eliomar e Erundina, ao mesmo tempo em que eram os políticos anti-sistema que há mais tempo estavam na política, representavam a renovação da própria política.  Freixo abriu o bloco perguntando à deputada como ela se sentia sendo a novidade na política mesmo ocupando este mesmo lugar há tanto tempo:

– Um sonho não envelhece e o socialismo é permanente, é eterno. É uma primavera sempre. E é isso que nos mantém jovens. Eu costumo dizer: o sonho pra ser sonho; a utopia pra ser utopia… ela não cabe em uma vida. E, portanto, esse sonho e essa utopia supõem que as novas gerações acreditem nesse sonho, busquem esse sonho para que eles mesmos, ao se aproximarem dele, possam transferir para a próxima geração. Isso me mantém jovem. Isso me mantém animada. Isso me mantém muito entusiasmada de construir o socialismo no mundo. Não só no Rio de Janeiro, em São Paulo, nem só no Brasil, no mundo. Porque o futuro da humanidade é o socialismo. E é isso que nos mantém jovens, com vontade de se manter na luta e muito feliz. É isso que nos faz essa juventude eterna – completou Erundina.

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Símbolo da atual resistência contra Cabral e Pezão na Alerj, aos 77 anos,  Eliomar Coelho, creditou à sua crença na vida, como um dos maiores estimulantes para continuar seguindo na luta e representando os anseios dos trabalhadores no legislativo:

– Gosto da vida. Gosto da alegria. Gosto do prazer. Gosto da felicidade. E claro, que nós somos turbinados. E turbinados pela presença constante nas nossas relações, principalmente, com os jovens. Como a própria Luíza Erundina está colocando. O que faz estar aqui é a questão do sonho, da utopia, da busca daquilo que a gente permanentemente persegue, que é a busca da justiça, da solidariedade, da vivência fraterna. Acima de tudo com justiça social. É isso que faz a gente ficar em pé sem cair, deitado sem dormir.

“Paulo Freire me disse: ´Você não é uma política. Você é uma educadora´, mas ele mesmo se corrigiu: ´você é uma educadora política´.”

Freixo lembrou que ambos viveram os anos da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Já eram lutadores diante o drama social que vivíamos. Erundina foi aluna de Paulo Freire (e autora do projeto de lei que o colocou como patrono da educação brasileira) e mais tarde, o convidou para ser seu secretário de educação em São Paulo, quando foi prefeita da cidade (1988-1993). O pedagogo lhe serviu de inspiração também na atuação  junto aos camponeses do norte do Brasil, massacrados pela ditadura:

– Eu resisti à ditadura. Com a minha geração lá no nordeste, na Paraíba. Aplicava o método Paulo Freire com aqueles que restaram do massacre que fizeram contra a liga dos camponeses. Trabalhei com esse pessoal que veio daquele momento – relembra a assistente social de formação.

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Segundo a deputada, apesar do pessimismo, há uma dinâmica na história sobre a relação entre opressor e oprimido que foge à racionalidade do sistema. Para ela, na época da ditadura havia “o sentimento de um poder forte, consolidado. A gente tem a sensação de que aquilo é eterno, não vai ser destruído nunca. Dá uma sensação de impotência. E uma percepção de que aquilo não vai terminar nunca. Só que a realidade é dinâmica. Ela é dialética. Os processos se dão sem que a gente perceba. Quando a gente imaginava que a ditadura não iria acabar nunca mais, ela tava apodrecendo por dentro”.

– É a dialética da história. Do processo político-social. E há um momento que se rompe aquele momento de solidez, de poder concentrado. E aí, a história dá saltos. A história não anda pra trás. E é isso que me dá esperança. É isso que me faz acreditar na democracia – como um bem eterno, permanente, essencial pra nossa existência. Pra existência humana, completou esperançosa.

Para Erundina, a função política é muito importante. Ela acredita que desperta nas pessoas “uma energia contagiante nas outras pessoas. Isso acumula o quê? Acumula força. A força gera movimento. Movimento gera ação. Ação gera mudança”:

Para todos nós, a luta é cotidiana, mas sempre nos enche de muito orgulho saber que nunca estivemos correndo neste campo sozinhos. Há toda a experiência e vivência daqueles que nunca estiveram no lado fácil da histórica, como sempre nos lembra o também deputado federal Glauber Braga. Abaixo, na íntegra, a entrevista completa de Freixo com Eliomar e Erundina e, em seguida, a entrega do título de cidadã fluminense no Buraco do Lume, centro do Rio de Janeiro.

 

Buraco do Lume especial – Luiza Erundina

Fotos: Cicero Rodrigues