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Entregar posições de comando a amadores ou a quem busca vantagens pessoais é inadmissível

No momento em que o carioca mais precisa de competência e seriedade na administração da cidade, fica evidente que não fomos felizes na escolha feita em outubro de 2016, da melhor cabeça para comandar o Rio. Entre viagens desnecessárias, ideias mirabolantes e piadas infames, o prefeito Crivella demonstra não estar à altura do cargo e prova ser incapaz de cuidar das pessoas como prometeu.

A crise da saúde no Rio, maquiada até o fim de 2016, ficou nítida ao longo do ano passado. Com a falência do estado e com as unidades federais inteiramente asfixiadas pelo Ministério da Saúde, o município do Rio tornou-se a última esperança de atendimento da população. Mas o governo Crivella, que alterna seu discurso entre negar a realidade e transferir a culpa dos problemas para a gestão de Eduardo Paes, perdeu um ano e meio sem buscar soluções e tentar reduzir danos.

Mas nada é tão ruim que não possa piorar! Vivemos, hoje, uma “tempestade perfeita”: escassez de recursos, aliada a um governo sem equipe, sem rumo, e os governos estadual e federal sem qualquer credibilidade. E não havendo confiança na administração pública não há como evitar a apneia dos agentes econômicos, que, aguardando o fim da tormenta, não investirão um centavo antes das próximas eleições, fechando o círculo perverso da queda da arrecadação e do colapso do caixa da prefeitura para a realização de despesas essenciais.

Em 2017, Crivella reagiu aumentando impostos, mas começou 2018 cortando R$ 600 milhões da saúde — o que tornará ainda mais severa a missão de salvar vidas. Reservadamente, autoridades municipais de plantão superaram a fase da negação dos problemas e já confessam que a crise é séria e que a solução será “amputar um ou dois dedos das despesas” para que “o pé caiba no sapato da receita”. Mas, diante de tanto improviso, o risco da “amputação de todo o pé” é iminente — o que nos faz crer na absoluta necessidade de cabeças mais qualificadas para administrar a cidade.

O município dispõe de servidores capazes de combater e vencer a crise, em todas as áreas, mas eles precisam de meios para trabalhar sem a interferência de pessoas que enxergam a máquina da prefeitura como meio para obter votos nas próximas eleições. Recentemente, o secretário Cesar Benjamim disse que educação é um fim e não um meio. Eu ampliaria esta visão, afirmando que todo serviço público eficiente e de qualidade é um fim, e seus servidores, o melhor meio. Repetir os erros do passado, entregando posições de comando a amadores ou a quem busca vantagens pessoais é inadmissível. Ninguém confia, ninguém investe, e a prefeitura não se mantém.

Paulo Pinheiro é médico e vereador (PSOL)

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