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Contra a militarização, o encarceramento, o Feminicídio e o extermínio de nossos filhos
por Ivanete Silva*

A luta das mulheres negras deve ser a luta de todas as mulheres, todas as questões relativas ao bem viver, ao viver de forma digna e decente também afeta todo o povo.

O golpe parlamentar, a Lava Jato, a instituição de uma direita racista, machista, misogena e capacho do Capital fizeram com que políticas conservadoras, de retrocesso, de retirada de direitos e de incitação de ódio ao povo preto, pobre, favelado, periférico, nordestino, LGBTI ou que pense diferente, se tornem rotina.

Digo isso para localizar onde estamos, onde estamos nós, as mulheres negras, estamos em todos os lugares, mas principalmente nos lugares mais violentados, com a negação de direitos básicos, trabalho precarizado, exploradas economicamente, objetificadas, silenciadas e invisibilizadas.

Em um país colonial, onde as grandes famílias alimentam seus herdeiros garantindo-lhes os cargos de poder no parlamento, na economia, no domínio das terras e na grande mídia, o que sobra para as mulheres negras, em sua maioria chefes de famílias, com menos formação, tendo que sobreviver com o mínimo? Sobra a senzala, a base da pirâmide continua negra e feminina.

A reforma da previdência, a terceirização, o congelamento das verbas públicas e agora a reforma da previdência são medidas drásticas que os governos Temer e Bolsonaro impuseram sobre nossas vidas, resistir a tudo isso é a condição para continuar vivendo, mas sobreviver é o que sempre fizemos. O governo Wiltez investe descaradamente nos sobrevoos de fuzil a atirar pra matar indiscriminadamente sobre o povo pobre e preto. A militarização das escolas e criminalização dos militantes rebate sobre as mulheres negras que se organizam na defesa da Educação Pública e as mães e família dos jovens mortos pelos Estado. O racismo estrutural, o racismo religioso, o racismo que persegue, oprime, encarcera e mata, tem seus principais implementadores: Marcelo Crivella, Wilson Witzel e Bolsonaro.

Mas nossa resistência vem de longe, somos herdeiras de uma civilização potente que foi escravizada e luta até hoje. Nossa ancestralidade nos fortalece, aquece nosso sangue e nos coloca no front todos os dias, mulheres como: Dandara, Teresa de Benguela, Luísa Mahir, D. Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Mãe Beata de Iemanjá, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Angela Davis, Bell Books, Marielle Franco e tantas outras.

As mulheres negras movimentam as estruturas, é verdade, precisamos nos conscientizar disso e ocupar os lugares de poder, mover a roda, partilhar o poder, no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo. Este dia nos chama a isso.

*Ivanete Silva é professora e do diretório do PSOL de Caxias, além de atuar no SEPE Caxias, no Movimento Negro Unificado e no Fórum de Mulheres da Baixada Fluminense