“Decidi ser pré-candidato para mostrar que segurança pública tem jeito, e é pela esquerda socialista, com uma programação que respeite a dignidade da pessoa humana, fundamentado em evidências, em planejamento, na escuta ativa da população.”
O PSOL Carioca bateu o martelo nesta noite de quinta (3) e escolheu o coronel da PM Íbis Pereira* como pré-candidato a vice-prefeito. Com essa aliança, o PSOL evidencia que a defesa dos direitos humanos é compatível com ações de segurança pública quando observados os princípios de legalidade, inteligência e prevenção.
Confira a entrevista concedida por Pereira:
[PSOL Carioca] Por que você aceitou o convite?
[Íbis Pereira] Porque nós estamos vivendo um tempo em que é preciso tomar partido. Assumir uma posição. Um tempo de polarização extrema, de muito ódio, ataques sistemáticos à democracia e ao projeto de Estado de Bem-Estar Social criado a partir da redemocratização, depois de mais de 20 anos de ditadura militar. Em parte, chegamos a esse cenário porque não conseguimos equacionar a questão da segurança pública nos moldes democráticos. Decidi ser candidato para mostrar que segurança pública tem jeito, e é pela esquerda socialista, com uma programação que respeite a dignidade da pessoa humana, fundamentado em evidências, em planejamento, na escuta ativa da população. Não é do cano de um fuzil que nasce segurança, mas de uma cidade organizada com base no direito e na justiça. É por acreditar nisso que aceitei esse convite. Será uma honra poder defender o programa do partido ao lado da querida Renata Souza, liderança que nos inspira a ter coragem para mudar.
[PSOL Carioca] Conte um pouco sobre sua trajetória.
[Íbis Pereira] Nasci na Cidade do Rio de Janeiro, no bairro da Penha, há 57 anos. Perdi meu pai muito cedo. Minha mão criou dois filhos, em situação muito precária. Aos 19 anos, decidi ingressar na Polícia Militar. Era uma oportunidade de emprego e, portanto, de ajudar nas contas. Aquilo que era um trabalho se tornou uma paixão. Segurança pública se transformou para mim em matéria permanente de estudo e curiosidade intelectual. A partir dessa necessidade, a de entender a violência como fenômeno humano, decidi estudar direito. A ciência jurídica me levou à filosofia e na filosofia descobri a história. Hoje, sou doutorando em História na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Na PM consegui alcançar o posto de coronel e entre as funções que desempenhei cheguei ao cargo de comandante-geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro. José Carlos Mariátegui disse um dia que a força dos revolucionários não está na sua ciência, mas na sua fé. No meu caso isso é uma verdade. Eu descobri o socialismo libertário na Teologia da Libertação e mais tarde nos textos de Marx. Desde o nascimento do PSOL passei a simpatizar com o partido e assim que cumpri meu tempo de serviço na polícia, em 2016, ingressei na militância pelas mãos da querida amiga Marielle Franco, que me convidou a me filiar no partido. Acredito que a questão da segurança pública é política e que apenas transformando substancialmente a vida das pessoas poderemos fundar uma segurança pública na liberdade e na garantia de direitos.
[PSOL Carioca] Qual o principal desafio da cidade do Rio de Janeiro?
[Íbis Pereira] Derrotar as máfias que levaram o Rio para o buraco. E todo mundo sabe quem faz parte dessas máfias e quem já se aliou a elas. Chega de toma lá da cá. A cidade não pode continuar refém dessas quadrilhas políticas, sendo governada na base da gambiarra e da maracutaia, de forma tosca e violenta. Há mais de uma década a prefeitura trabalha para agradar meia dúzia de banqueiros, empreiteiros e doleiros, enquanto o povo sofre todo dia para sobreviver no caos. Antes, a turma do Paes negociava grandes pacotes no atacado. Hoje, o grupo do Crivella realiza pequenas negociatas no varejo. Mas os dois tratam a cidade como um balcão de negócios. Só muda o estilo da marmelada. É o jogo mafioso da corrupção e da pilhagem. Já faz tempo que o carioca cansou da mesmice da velha política. Não temos mais tempo para o amanhã, a solução tem que ser agora. Vamos atacar a raiz do problema, acabar com os privilégios e colocar a casa em ordem. Hoje, no Rio de Janeiro, apenas o PSOL tem legitimidade ética e capacidade política para tirar o Rio do buraco.
[PSOL Carioca] Qual a sua principal proposta para a área de segurança pública?
[Íbis Pereira] Vamos liderar um pacto municipal de redução da violência urbana e doméstica, em especial, estupros e homicídios, e construir uma rede municipal de apoio, acolhimento, proteção e denúncia para as vítimas e seus familiares. Já no primeiro mês de governo, iremos implementar um programa de metas de curto, médio e longo prazo, com critérios claros de eficiência, eficácia e efetividade, garantindo mecanismos de monitoramento e fiscalização permanentes. Nossa aposta será na inteligência. Queremos investir no aperfeiçoamento da produção de dados sobre conflitos urbanos e domésticos, com a organização, integração e sistematização dos bancos de informações da prefeitura. O intuito é desenvolver um mapa interativo da violência na cidade, com indicadores que permitam analisar a situação de cada bairro, e criar um observatório da segurança no Rio. Vamos instituir um sistema permanente de troca e diálogo com a Câmara Metropolitana, o Governo do Estado e a União (inclusive com o Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN), investir na formação, capacitação e qualificação dos agentes de segurança pública e defesa social (municipais, estaduais e federais) que atuam na cidade e elaborar uma estratégia de comunicação que envolva a população no estabelecimento de uma cultura de paz e amizade cívica. A segurança no Rio tem jeito. Basta ter vontade política, aprender com as experiências práticas de outras regiões e pensar fora da caixinha.
[PSOL Carioca] Qual a sua posição sobre o armamento da guarda?
[Íbis Pereira] Sou contra o armamento da Guarda Municipal. O Rio não precisa de mais armas na rua. Muito pelo contrário: todo mundo sabe que a violência diminui na medida em que se reduz a quantidade de armas em circulação. Na verdade, o Rio precisa aprimorar os seus mecanismos de controle das armas que hoje circulam sem qualquer fiscalização pela cidade. Segurança não é produzir mortes, mas garantir a vida. E isso se faz com informação, estratégia e planejamento. A Guarda deve ser valorizada como um órgão importante para a gestão inteligente do espaço público. Invés de tiroteios, os servidores da Guarda Municipal merecem um plano de careira digno, acompanhamento psicológico, assistência social e melhores condições de trabalho. A paz não vem das armas, mas de uma política pública que estruture a gestão da segurança, que produza dados para orientar ações e que diminua os riscos de violência contra grupos e territórios específicos. Tratar a Guarda Municipal como se ela fosse uma polícia é tão equivocado quanto tratar a polícia como se ela fosse um Exército. Confundir as funções dessas agências é uma escolha muito perigosa e pouco eficiente. Na verdade, é através da ação integrada e coordenada entre as diferentes instituições, cada uma cumprindo seu devido papel constitucional, que se controla indicadores criminais.
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* Ibis Pereira é Coronel da Reserva Remunerada (RR) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, onde ingressou em 1983 e permaneceu durante 33 anos. Foi comandante da Escola Superior, comandante da Academia de Polícia Militar, chefe de gabinete do Comando Geral e, por dois meses, Comandante da própria PMERJ.