por Alice Cravo e Madalena Romeo para O Globo
RIO — A candidata do PSOL à Prefeitura do Rio, a deputada estadual Renata Souza, aposta em diálogo com eleitores arrependidos do presidente, diz que PDT impediu união da esquerda e quer gestão pública na Saúde e IPTU progressivo.
O PSOL estimula a diversidade, a participação da periferia, mas não consegue dialogar com a população mais pobre, principalmente com os evangélicos. Há preconceito contra esse segmento?
Não existe um preconceito da esquerda com o povo evangélico. O que é existe é uma tentativa de demonização do que a esquerda defende enquanto sociedade: plural, que reconheça a diversidade sexual das pessoas. É a esquerda sendo reconhecida por uma ala fundamentalista como inimigo, e isso é um equívoco completo. Temos preocupação com a utilização política e mercantilizadora da fé.
A escolha por um vice que é coronel reformado da PM, o Ibis Pereira, é uma tentativa de rebater a acusação comum na direita de que o PSOL usa os direitos humanos para “defender criminoso”?
Ibis é um policial antifascista e nós temos orgulho de tê-lo na chapa. Ele representa alguém que vem de dentro da corporação, mas não se rendeu a essa lógica de militarização. Na verdade, o PSOL quer mostrar o seu programa de segurança pública que respeita os direitos humanos e a dignidade humana.
Você pretende dialogar com o eleitor que votou em Bolsonaro?
Não temos dúvida de que a disputa no campo municipal passa por derrubar o bolsonarismo, justamente porque entendemos que essas eleições podem ser uma prévia, um plebiscito de 2022. O diálogo é franco e aberto, porque eu tenho certeza que muito eleitor do Bolsonaro está arrependido. Assim como se arrependeram de votar no Witzel e vão se arrepender de novo por votar no Crivella, que é a aposta do Bolsonaro.
O PSOL é um dos partidos que mais cobram investigação sobre rachadinha do gabinete de Flávio Bolsonaro. Mas entre assessores do gabinete de um deputado do PSOL, Eliomar Coelho, também o Coaf apontou movimentações atípicas…
O Eliomar já deu todas as explicações para o Ministério Público. Quando a gente olha o presidente querendo proteger o filho a qualquer custo, usando inclusive do poder político que ele tem sobre instituições, a gente vê que tem algo a esconder. Diferente do Eliomar, que nunca deixou de responder e dar explicações ao Ministério Público. Pelo contrário, já deixou aberta toda a possibilidade de investigação, porque não deve nada.
Como prévia de 2022, por que não houve uma união da esquerda? O Freixo conduziu esse processo de maneira correta? Ele foi claro que a candidatura seria dele e houve um descontentamento pelo não diálogo sobre como a chapa seria formada.
Essa foi a primeira luta comprada e articulada pelo PSOL e por óbvio teve dificuldade. O PDT não topou. Isso é importante ser dito. Reproduziram uma lógica de 2016, quando o Freixo não foi apoiado pelo PDT no segundo turno contra o Crivella.
Existe alguma possibilidade de você retirar a candidatura em favor de Benedita em troca do apoio do PT a Guilherme Boulos em São Paulo?
No Rio, ainda está tudo em disputa. É precipitada qualquer avaliação agora. A nossa candidatura vai crescer. E precisamos fazer a leitura das especificidades das cidades. No próprio PT, essa proposta não é uma unanimidade. Para que isso seja conversado é preciso de fato uma proposta.
Você propõe o renda básica carioca, o BRT de graça, VLT de graça, construção de cem mil casas, ampliação dos recursos destinados à saúde, aumento progressivo do investimento em construção e na manutenção de creches. O Rio tem dinheiro para sustentar esses programas?
Temos um programa de recuperação econômica e social do Rio, fundamentado naquilo que o Tribunal de Contas diz. Podemos recuperar da dívida que grandes bancos, empreiteiras e empresários têm com a própria prefeitura. É possível recuperar cerca de R$ 10 bilhões. Temos também a possibilidade de arrecadar cerca de R$ 3,5 bilhões através do IPTU progressivo. Vamos cobrar mais de quem tem imóveis de mais de R$ 2 milhões. Quem tem menos, vamos cobrar menos. São os super ricos que vão pagar para que os pobres e a classe média tenham viabilidade nessa cidade. Organizar a prefeitura também é possível. Revisar contratos, licitações. É uma forma de economizar.
Quais são os seus planos para as Organizações Sociais da Saúde, fonte de escândalos e desvio de dinheiro?
A gente quer valorizar o SUS. Já no primeiro ano, vamos investir R$ 7,5 bilhões na saúde pública. Entendemos que as OSs trouxeram muitos prejuízos. Mas quem trouxe foi justamente o Eduardo Paes, que importou o modelo de São Paulo. Queremos colocar a Rio Saúde, uma empresa pública, para trazer de volta a gestão da saúde para a prefeitura, e recontratar 200 equipes de família, que são essenciais.