Vice-presidente da Comissão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro que acompanha as ações de combate ao coronavírus, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL Carioca) está bem atento aos movimentos da secretaria municipal de Saúde do Rio e as atitudes tomadas para enfrentar a pandemia. Para o parlamentar, a prefeitura deveria ser mais rígida no controle de aglomerações na cidade e criticou a postura do prefeito Eduardo Paes. “O seu insistente discurso afirmando que o governo não será babá da população é frustrante. O que nós pedimos é que o governo atue como fiscal da cidade e não babá dos cariocas”, disse o vereador nesta entrevista ao jornal O DIA. As críticas de Paulo Pinheiro foram direcionadas também para o Ministério da Saúde e o governo federal por causa do atraso da vacinação. “Virou um problema diplomático, pois o presidente da República e o ministro da Saúde (além de responsáveis pela situação gravíssima do oxigênio em Manaus) não souberam fazer os acordos necessários para garantir a imunização do povo brasileiro”.
(Entrevista publicada no Jornal O Dia em 24 de janeiro de 2021. Por Sidney Rezende)
Qual a sua expectativa para a gestão Eduardo Paes na Saúde?
Lamentavelmente, os primeiros dias já me frustraram muito. O seu insistente discurso afirmando que o governo não será babá da população é frustrante. O que pedimos é que o governo atue como fiscal da cidade e não babá dos cariocas. Ele precisa imediatamente fiscalizar e punir quem faz festas clandestinas, bares que insistem em não cumprir a lei, cobrar das empresas de transporte que coloquem na rua os ônibus retirados da população, que cobre o rígido cumprimento de um novo horário para comércio, indústria e serviços. Esperava que o novo prefeito enfrentasse corajosamente o governo federal para abrir os mais de mil leitos dos hospitais federais que estão fechados. As primeiras semanas nos mostram um prefeito “em cima do muro” para não desagradar o presidente. Espero que ele pule do muro.
Qual a explicação para a confusão do Ministério da Saúde nesse processo de vacinação?
O que estamos vendo é que não há um plano nacional bem estruturado. O presidente e o ministro da Saúde (além de responsáveis pela situação gravíssima do oxigênio em Manaus) não souberam fazer os acordos necessários para garantir a imunização do povo brasileiro. As vacinas foram distribuídas e, evidentemente, a quantidade de vacinas é insuficiente até mesmo para o primeiro grupo. Criou-se uma prioridade dentro da prioridade, pois provavelmente o lote que chegou irá acabar em menos de uma semana e a trágica diplomacia brasileira não consegue se entender com a China e com a Índia para receber os insumos necessários. Isso é uma vergonha internacional.
Como o senhor avalia a atuação do prefeito de São Paulo, João Doria, à frente do início da vacinação? E o Programa de Imunização do governo federal?
O Programa de Imunização está muito confuso. Nós não sabemos sequer quantos profissionais de Saúde serão atendidos. O Ministério não consegue dar esse número. Apesar da aparente organização de uma divisão em fases, faltam dados para que tenhamos esperança de uma grande imunização até o segundo semestre. Em relação à briga da “vacina do Doria” com a “não vacina do Bolsonaro”, é uma vergonha que o Brasil esteja passando por isso. Obviamente o governador faturou politicamente, fez um evento enorme de vacinação, mas temos que admitir que ele teve o mérito de lá atrás, em parceria com o Butantan, ter buscado comprar o que era necessário para a Sinovac. Ele pelo menos fez o mínimo.
O prefeito Eduardo Paes preparou um evento no Corcovado para o início da vacinação. Qual sua avaliação sobre isso?
Assim como o Doria, eu acho que não precisava disso tudo. Eduardo Paes precisava era assumir sua responsabilidade e endurecer as medidas de isolamento. Ele insiste que vai conseguir conscientizar a população sem a necessidade de lockdown, mas estamos vendo que não está funcionando. E no meio disso tudo, ele fez o ato no Cristo. Entendo o jogo político, acho até que realmente precisamos de propaganda da vacinação e que é muito bonito o símbolo do Cristo, mas não posso concordar em levar uma velhinha para aquela balbúrdia. Ele podia ter feito a primeira vacina dentro de um hospital.
Em quanto tempo a população adulta do Rio vai ser vacinada?
As primeiras doses que chegaram ao Rio não serão suficientes para vacinar todos os profissionais de Saúde que precisam ser vacinados na primeira fase. Se Bolsonaro fica dizendo que ele não vai vacinar e que a vacina não é segura, então ele não poderia ter um ministro da Saúde melhor para fazer essa bagunça na distribuição e logística (que, teoricamente, seria a especialidade dele). Por isso, eu não tenho a menor ideia de quando a população adulta vai ser vacinada. Depende da chancelaria brasileira, mas, infelizmente, o ministro das Relações Exteriores é outra catástrofe.
O senhor integra a comissão da Câmara de Vereadores justamente para acompanhar as ações de combate ao coronavírus. Que providências já foram tomadas?
Tivemos apenas uma reunião dessa comissão. Enquanto vice-presidente, solicitei que a primeira providência seja uma conversa com o secretário de Saúde Daniel Soranz para que ele diga quantas vacinas chegaram, quantas pessoas serão vacinadas e quantas vacinas a gente precisa para vacinar a população na ordem que o PNI aponta. Infelizmente, ele alega estar sem tempo. A comissão está prevista para durar até 18 de fevereiro, quando a Câmara retoma atividades normais, e o secretário marcou para ir dia 16. Ou ele remarca ou nem precisa ir, pois precisamos das informações agora. Estamos tentando convencê-lo a participar de uma reunião virtual o mais rápido possível. Além disso, nos reunimos com profissionais dos sindicatos, dos órgãos de classe dos médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e com hospitais privados.
Precisamos conversar com todos para entender a situação do Rio. Independentemente da atuação da comissão da Câmara, eu peço muita calma à população e mais atitudes das autoridades. As taxas de contaminação e óbito seguem subindo e são necessárias medidas como o distanciamento social. Até porque, não temos como ter certeza que o governo federal irá conseguir organizar a vacinação rapidamente. Afinal, estamos falando do mesmo governo que não conseguiu evitar a falta de oxigênio em Manaus. É triste e vergonhoso, mas esse é o caos em que nos encontramos.