Originalmente publicado no Diário do Rio
Da noite para o dia, após uma decisão relâmpago do presidente da República, tomamos conhecimento de que a Copa América de Futebol será jogada no Brasil, e vai começar já. Dez delegações, totalizando cerca de mil pessoas, serão distribuídas em cinco estados do país. É pouca gente, dizem os torcedores mais fanáticos, e o Brasil é muito grande. Além disso, atacam o técnico Tite e reforçam que não há problema, pois já estão sendo disputados o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores da América.
Sem dúvida, o território do Brasil é grande e, mesmo sem a realização do censo demográfico, em razão de cortes no orçamento do IBGE, somos mais de 200 milhões em ação, muitos, doentes. Salve a seleção? Difícil cantar… Estamos longe de poder comemorar o que quer que seja. Como se já não tivéssemos problemas de sobra, há menos de um ano e meio, a primeira morte por Covid-19 no Brasil foi confirmada. De lá para cá, foram mais de 470 mil pessoas mortas pela doença e, provavelmente, antes de a bola rolar, estaremos perto da marca de 500 mil brasileiras e brasileiros vítimas fatais da doença – um título nada honroso a ostentar.
O ministro da saúde de plantão preferiu sair pela linha de fundo, ao ser indagado sobre a conveniência da realização de mais esse torneio, quando a média de mortos por Covid no Brasil é superior a 1600 por dia! Limitou-se a anunciar determinados protocolos de segurança.
Mas o sucessor do inesquecível general Pazuello é médico e sabe do esgotamento dos profissionais de saúde no Brasil inteiro. As emergências e unidades de terapia intensiva estão lotadas há mais de um ano. Sem contar o expressivo número de homens e mulheres das equipes de milhares unidades de saúde que tombaram durante o combate à pandemia. Ora, se a Copa América vai matar “apenas” mais uma ou duas pessoas, importa muito! A Copa América não será a gota d’água. Nosso copo já derramou faz tempo. Agravar esse drama nacional é um escárnio.