(memória do centenário, para que sua obra seja lembrada em cada escola)

“A tarefa mais importante de uma pessoa que vem ao mundo é criar algo novo”, repetia Paulo Freire (1921-1997). Ele não era um instrutor, um mestre-escola, talvez nem mesmo um professor: Paulo gostava de ser educador. Com o que de criativo, inventor e rebelde isso significa.

Paulo Freire, nascido em 19/9/1921, mais que inventou: desvendou. Contestou, afirmou realidades que andavam escondidas (“Não basta escrever ‘Eva viu a uva’. É preciso entender sua condição social de mulher, saber como essa uva foi produzida e comercializada e quem lucrou com isso”). Isso, nesse mundo de verdades prontas, já é uma invenção.

Paulo disse que não há ninguém inculto. Que todo(a)s, até o(a)s mais iletrado(a)s, são portadores de saberes, de inteligência, de capacidade de conhecer mais e mais (“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”).

Paulo Freire disse que o dominador é tão poderoso que consegue, às vezes, entrar dentro do dominado, que nega a si mesmo. Paulo disse também que a arrogância burra da escola é considerar que antes dela nada existe, ou que as crianças são como folha em branco onde se escreverão as primeiras e inesquecíveis letras.

Paulo reafirmou que a política é uma dimensão fundamental da vida e que esses tempos de endeusamento do mercado, de “coisificação” dos sentimentos são muito medíocres: é preciso superá-los. Na escola e na luta política, construindo pontes para derrubar muros de individualismo, exclusão e opressão.

Paulo Freire viveu docentemente. Pernambucano do mundo, brasileiro planetário, sonhador aos 15, 30, 60, 75 anos. Para sempre! Aqui ou em Genebra. No Chile ou na Guiné. Paulo não disse, apenas: ele fez. Praticou outra “invenção”, a da ação militante dos comuns: “ninguém se liberta sozinho, ninguém liberta ninguém. As pessoas se libertam em comunhão.”

Paulo, revolucionário, solidário, socialista, era místico também. Amou a Deus, a quem não viu, amando seus semelhantes – gentes, bichos, plantas – que continuam aí, ameaçados, clamando por gestos de defesa.

Paulo inventou o verbo “esperançar”. Ele é conjugado quando há uma relação educativa, generosa e alegre de troca de conhecimentos (“A educação não muda o mundo, ela pode mudar as pessoas; e essas mudam o mundo”). Assim o espírito de Paulo, o educador, viverá.

Por Chico Alencar, que aprendeu com Paulo e outra(o)s tantos, a viver docentemente