Neste fim de semana, vários bairros da Zona Norte, como Pavuna, Anchieta e Acari acordaram embaixo d’água. A gente não pode impedir a chuva, mas preparar a cidade para recebê-la melhor é um dever. Entretanto, há um detalhe que é muito importante: quem é mais afetado tem cor e CEP específicos. A essa situação, damos o nome de RACISMO AMBIENTAL. Abaixo, reproduzimos conteúdos pertinentes para nos informamos sobre a expressão e como podemos reparar e combater coletivamente esse mal que afeta nossa cidade e a vida de pessoas periférias e negras há anos.
O QUE É RACISMO AMBIENTAL? – Jonas Di Andrade*
O racismo ambiental é termo utilizado para tratar da desigualdade socioambiental que atinge sobretudo as comunidades marginalizadas, onde estão presentes pessoas negras, indígenas e empobrecidas. Essas comunidades sofrem os impactos negativos da degradação ambiental e da falta de acesso a recursos naturais e serviços ambientais, enquanto as populações mais privilegiadas usufruem de uma maior proteção ambiental e melhores condições de vida.
Não é coincidência que as populações negras, por exemplo, sejam uma das populações afetadas pelos danos ambientais. Devido ao passado colonial, com estruturas sociais baseadas na escravização de pessoas negras, estas passaram a ser inviabilizadas. A lei áurea de 1888 não trouxe consigo a reparação dos danos causados pela escravidão ou integração dos libertos. As consequências disso vemos até os dias de hoje.
O racismo ambiental se manifesta de várias maneiras, como por exemplo, na localização de lixões e aterros sanitários perto de comunidades de baixa renda e majoritariamente compostas por pessoas negras e indígenas, na poluição do ar em bairros mais pobres, na falta de acesso à água potável e saneamento básico em comunidades rurais e periféricas, entre outros casos.
A ausência de políticas públicas que impeçam essa forma de discriminação contribui pra manutenção desse cenário de exclusão. Ao andar por diversas favelas, eu vejo na prática como o racismo ambiental se dá. Se levarmos em consideração que não há investimento em políticas de igualdade no Rio de Janeiro, o resultado das consequências das mudanças climáticas não poderia ser diferente.
*Comunicador, editor, professor, filho do rei de Òyó
No vídeo, nosso companheiro Derê Gomes também explica a expressão:
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RACISMO AMBIENTAL: O QUE FAZER? – Tarcísio Motta*
É hora de socorrer e acolher os atingidos, mas todos sabemos que, para evitar tragédias, é preciso preparar a cidade para os fenômenos climáticos extremos. Em 2019, na CPI que presidi, alertamos que o Rio Acari necessitava de intervenções urgentes. De lá pra cá, o que foi feito?
Além disso, é inadmissível que uma obra como a realizada na Avenida Brasil não tenha considerado os impactos das chuvas fortes para evitar o que estamos vendo na via. Temos que analisar o que houve, mas me lembra a ciclovia que caiu pois o projeto não previu as “ondas fortes”.
Por fim, a falta de investimentos na Defesa Civil cobra seu preço justamente nesse momento. Em 2019 alertamos a prefeitura e denunciamos ao MP que concursos, equipamentos e estruturação eram imprescindíveis. Ano após ano cobrei mais orçamento para o órgão e fui ignorado.
Não basta aparecer diante das câmeras na hora das tragédias. É preciso política pública para evitá-las.
ARRECADAÇÃO DE MANTIMENTOS E DOAÇÕES
A Câmara Municipal do Rio de Janeiro, recebe, a partir desta segunda-feira (15/01), donativos para as vítimas das chuvas na cidade, das 10h às 18h. Devem ser doados alimentos não perecíveis, água potável, itens de limpeza e de higiene pessoal.