Aqueles que, em nome do medo do bolsonarismo, se negam a enfrentá-lo, ajudam a escrever um roteiro para a derrota

Tarcísio Motta*
Originalmente publicado no Brasil de Fato

21 de fevereiro de 2024

Nada deve parecer impossível de mudar! Tendo essa frase como mote, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) afirma, desde 2009, a necessidade de enfrentar o projeto de cidade da turma do Eduardo Paes (PSD) que reduziu o Rio de Janeiro a um balcão de negócios.

Quinze anos, um golpe, 700 mil mortos pela covid-19 e um desgoverno Bolsonaro depois, nos encontramos em uma nova encruzilhada da história de nossa cidade, mas com o mesmo prefeito repetindo sua velha ladainha: convencer aqueles que lutam cotidianamente por uma vida melhor que o limite do possível para os cariocas é uma gestão que reforma praça enquanto dá “porrada” em camelô, que asfalta ruas sem garantir moradia digna, que inaugura escola sem valorizar educadores, que vira capital do G20 enquanto subordina o licenciamento ambiental aos interesses do mercado. Tudo com um sorriso emoldurado num chapéu Panamá para um vídeo no TikTok.

Depois de três mandatos do atual prefeito, nossa cidade está mais violenta, com domínio maior da milícia e ainda mais injusta. 

Não faz sentido apoiar a continuidade desse modelo. Quando foi que nossos sonhos foram tão rebaixados? Quando foi que deixamos de acreditar que mudanças são possíveis, necessárias e urgentes? É verdade que as experiências de uma administração desastrosa como a do Marcelo Crivella e de um governo genocida como o de Jair Bolsonaro nos deixaram marcas e traumas, mas será que isso vai ser superado apostando na conveniência política de um ex-tucano que apoiou o golpe contra a Dilma em 2016, se posicionou publicamente ao lado do programa apresentado por Bolsonaro e Paulo Guedes em 2018, e só aderiu à campanha do Lula em 2022, no momento em que várias pesquisas indicavam que ele poderia ganhar no primeiro turno?

Quando foi que a esquerda abriu mão de disputar um projeto político popular e se acomodou a um horizonte tão pequeno, se deixando calar em troca de algumas secretarias e uma promessa duvidosa de apoio eleitoral a Lula em 2026? Eu sei que nossa prioridade é derrotar ideologicamente o bolsonarismo. Mas isso só poderá ser feito se enfrentarmos o fascismo com o didatismo e a firmeza necessários para essa batalha de ideias, valores e práticas. Basta ouvir os últimos discursos de Paes para saber que ele não fará isso. Em 2022, estive desde o início nas ruas para ajudar Lula a derrotar Bolsonaro, mas também e, principalmente, para mudar o Brasil e melhorar a vida das pessoas.

O que queremos nas eleições de 2024 no Rio de Janeiro? Mobilizar os cariocas insatisfeitos e indignados em torno de suas justas reivindicações ou apenas tentar convencê-los de que uma cidade cara, violenta e excludente é o melhor que podem esperar nessa vida?

Aqueles que, em nome do medo do bolsonarismo, se negam a enfrentá-lo em sua essência, ajudam a escrever um roteiro para a derrota, venha ela agora ou em alguns anos. 

Em plena eleição municipal, deixar o signo da mudança nas mãos dos fascistas é permitir que a mentira e o ódio continuem a germinar como resposta às crueldades e injustiças do mundo. Nosso chamado para que a esquerda se unifique em torno de uma candidatura decidida e convictamente de esquerda é um grito de alerta de quem segue acreditando que, para mudar o mundo e ter direito ao futuro, não temos tempo a perder e nada pode parecer impossível de mudar.

*Tarcísio Motta é deputado federal (Psol/RJ) e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro.

Edição: Jaqueline Deister