Por Tarcísio Motta – vereador do PSOL Carioca

Me emocionei todas as vezes que ouvi o samba da Mangueira. Desde a disputa, – que acompanhei de longe – cada verso do samba me fazia lembrar porque decidi ser historiador e professor. Historia vista a partir “dos de baixo” como dizíamos na UFF. História feita como sempre tentei fazer em cada aula que dei! E ainda tinha a Mari. Cantar a Marielle entre Marias, Mahins e Malês era lembrar que a luta pelo passado é um importante elemento do presnte, era subverter a lógica linear de nossa cronologia e lembrar que os heróis dos barracões ficam sempre escondidos hoje e ontem ao mesmo tempo, mas não deveriam! Era lembrar que a minha amiga assassinada era dessas que não se contentam com o rodapé das páginas da história, mas tomam o destino nas próprias mãos e junto com tanta gente, sabe que nada deve parecer impossível de mudar.

E aí, como “na luta a gente se encontra”, a ousadia de Leandro Vieira encontrou a poesia de Manuela Oiticica, Tomaz Miranda, Danilo Firmino, Domenico, Ronie, Marcio e Silvio, que por sua vez encontrou o saber e a força de cada componente, cada diretor de ala, cada operário de barracão, cada folião, cada destaque, cada baluarte, cada figurinista, passista, coreógrafo, intérprete e sei lá quanta gente mais pra fazer essa aula de história à contrapelo acontecer em plena Sapucaí, ganhar o carnaval do Rio e mostrar que o Brasil é muito mais que o retrato que tá no palácio.

Por isso tudo, quando fui convidado a escrever sobre o Duque de Caxias para o último carro do enredo e quando pude desfilar com a escola, não pensei duas vezes. Dar uma pequena contribuição à história feita ali em pleno 2019 e poder participar disso foi uma honra.

Mas, confesso que nada poderia me preparar para, ao lado da Gabriela, segurar uma enorme bandeira do Brasil verde e rosa com o lema “indios, negros e pobres” e cruzar a Marquês de Sapucaí olhando para as bandeiras de Carolina de Jesus, Jamelão, Cartola e Marielle. Essa emoção, vou guardar comigo enquanto viver e seguir lembrando dela toda vez que alguém começar a cantar…

Brasil, meu nego deixa eu te contar…