Nesta sexta, 27 de outubro, foram completados 300 dias desde a posse

Se o prefeito Marcelo Crivella resolvesse fazer um manual baseado em sua gestão, a principal orientação talvez fosse esta: “Primeiro, assine o decreto. Depois, se alguém reclamar, diga que irá conversar com todos e enrole os contestadores pelo maior tempo possível. Se não der certo, edite outro decreto”.

Assim, na base da canetada, Crivella vem maltratando a história do Rio de Janeiro, esforçando-se, a cada dia, para sufocar a alegria do carioca. A falta de diálogo com a sociedade é uma constante e o descaso com a população que depende da saúde e da educação públicas é indecente. E tudo isso é necessário, diz ele, em nome da crise. Que fique claro: no universo das crivelladas, a crise não é um problema a ser combatido, é um modo de governar.

Em 300 dias, a gestão do prefeito de Marcelo Crivella…

… exonerou cerca de 1500 servidores no primeiro dia de sua administração, alegando austeridade para reduzir custos. No entanto, reintegrou centenas desses profissionais dias depois. Os sucessivos recuos foram considerados demonstrações de amadorismo por especialistas. Em 20 dias de mandato, foram feitas 400 reintegrações.

… criou 16 Superintendências de Supervisão Regional, para as quais nomeou aliados políticos.

 … nomeou o próprio filho, Marcelo Hodge Crivella, como secretário da Casa Civil. Uma semana depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a nomeação, que foi considerada nepotismo, ou seja, prática que favorece parentes. Além disso, o Conselho Federal da OAB protocolou reclamação no STF afirmando que o filho de Crivella não tem condições técnicas para assumir o cargo.

… ignorou a tradição do carnaval carioca e não entregou a chave da cidade ao Rei Momo. À imprensa, ele disse que sua participação seria demagogia e que “ninguém pode ser obrigado a fazer nada”. Mas a secretária de Cultura, Nilcemar Nogueira, que o substituiu no ritual, disse que o prefeito não compareceu porque a esposa estava com gripe.

… cortou R$ 112 milhões do orçamento da Educação e R$ 547 milhões do orçamento da Saúde, contradizendo o que havia prometido durante a campanha. Quando era candidato, disse que aumentaria o orçamento da Saúde em R$ 250 milhões.

… declarou, no primeiro dia do mandato, não ter a pretensão de cobrar contribuição previdenciária de aposentados. Dois meses depois, mudou seu discurso, defendendo a proposta do novo presidente do Previ-Rio, Luiz Alfredo Salomão, que quer cobrar a alíquota de 11% sobre os salários de aposentados e pensionistas.

… convocou concursados da Educação de forma limitada. Há professores que abriram mão de seus empregos para fazer o curso de formação da Escola Paulo Freire, que prepara os educadores para ingressar na rede e ainda não foram chamados.

…não sabe quando irá pagar os projetos aprovados no edital de fomento da Secretaria de Cultura da gestão passada. A dívida é de R$ 25 milhões. No entanto, já anunciou que irá lançar novos editais, mesmo sem pagar o anterior.

… blindou a base do governo na Câmara Municipal com relação à CPI do Porto Maravilha, que pretende investigar indícios de corrupção e ilegalidades na empreitada.

… anunciou, por meio do secretário de Transportes, Fernando Mac Dowell, entregar a Linha Vermelha para a iniciativa privada, que cobraria pedágio. No mesmo dia, o prefeito desautorizou o secretário e afirmou que o assunto ainda não havia sido discutido.

… diante do assassinato da estudante Maria Eduarda Alves Ferreira, de 13 anos, dentro de uma escola pública, indicou três supostas soluções totalmente desencontradas para garantir a segurança das crianças: o secretário de Educação, Cesar Benjamim, propôs que não houvesse mais operação militar em horário escolar; o secretário de Ordem Pública, Paulo César Amêndola, propôs que a PM avisasse à direção da escola antes de iniciar uma operação; já para o prefeito, a solução estaria numa argamassa à prova de balas, importada dos Estados Unidos, que já teria sido encomendada.

… não bastasse apelar no Supremo para reintegrar o filho à Casa Civil, decidiu nomear o sócio de sua filha, Alessandro da Silva Costa, como subsecretário na mesma pasta.

… em julho, deixou os servidores municipais a ver navios quando, ao contrário das últimas décadas, eles não receberam metade de seu décimo terceiro com o salário.

… anunciou um corte que atacava diretamente o campo da cultura quando optou por não honrar os pagamentos do Programa de Fomento às Artes 2016, consolidando um calote na classe artística.

… aprovou a revisão do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em toda a cidade, uma medida de impacto, realizada de forma atabalhoada, sem promover um debate junto à sociedade. O novo IPTU ainda agrava a nossa histórica desigualdade urbana, com áreas mais pobres recebendo um reajuste mais elevado do que áreas mais ricas: quem tem muito paga pouco, quem tem pouco paga muito.

… adiou a votação do Plano Municipal de Educação seguidas vezes. O que deveria servir como um norte para o município foi relegado para o segundo plano.

… realizou mudanças na Guarda Municipal na tentativa de transformá-la em uma polícia da cidade, mudando o perfil do Centro de Operações, priorizando a lógica da repressão em vez de apostar na prevenção e na inteligência.

… tirou 22 milhões de reais destinados à Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente para o investimento em publicidade.

… em junho, a cidade parou, assolada por enchentes. O Centro de Operações simplesmente não emitiu alertas sobre a forte chuva, que estava prevista. Resultado: milhares de pessoas ilhadas sem conseguir retornar para suas casas. Para piorar, o prefeito dá uma declaração sobre o temporal, dizendo que o Rio “passou no teste” da chuva.

… Guardas municipais e servidores da Comlurb tiveram seu ganho em horas-extras severamente reduzido. O Previ-Rio não concedeu benefícios importantes, como o auxílio bolsa de estudo, Previ-educação e Previ-Creche. Crivella atacou diferentes auxílios ou gratificações oferecidas para os mais de 170 mil servidores vinculados à Prefeitura.

… o descaso do Prefeito com a saúde pública foi um dos pontos mais atacados do seu governo. Não bastasse atrasar os salários dos funcionários, ele também ameaçou fechar clínicas e hospitais em áreas sem assistência médica. São muitos relatos de demissões de trabalhadores das clínicas da família e da rede de saúde mental.

… não garantiu a estrutura para o carnaval do subúrbio na Intendente Magalhães, atravancou o ensaio de blocos tradicionais da cidade e retirou recursos normalmente utilizados para a realização dos ensaios técnicos das escolas de samba.

… decidiu não apoiar financeiramente a realização da segunda maior parada gay do país, que foi adiada de outubro para novembro pela dificuldade de arrecadação de patrocínio.

… impediu que a exposição de arte Queermuseu fosse realizada no Museu de Arte do Rio. Este equipamento cultural teve sua autonomia atacada, uma vez que seu conselho se manifestou contrário à decisão do prefeito.

… cancelou a estreia da peça “Bicha oca” e da exposição fotográfica “Curto Circuito”, que estavam programadas para o “Mês da diversidade”, organizado pela Coordenadoria de Diversidade Sexual no Castelinho do Flamengo. Depois de muita luta por parte dos artistas, a programação do local pôde ser retomada na semana seguinte.

Via Mandato Coletivo Tarcísio Motta