Por Isabel Lessa*

Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2021

É o fim de uma era para mim, um período intenso que se encerra na minha vida. Neste sábado, após quatro anos desde o último congresso, uma nova direção foi eleita no 4° Congresso do PSOL Carioca, a primeira em que não figuro entre os quadros dirigentes desde sua fundação, em 2013. 

Assumir a condução do partido após a gestão de Tarcísio Motta foi bastante desafiador, mas, estranhamente, também me parecia uma conquista importante. Para a jovem de 28 anos e cabelos cor de rosa, cheia de ousadia, disposição e brilho nos olhos, uma das que havia coordenado o Se a Cidade Fosse Nossa e a campanha à Prefeitura em 2016, sermos nós a assumirmos a cara pública do partido parecia uma justiça bem feita. Contava com o incentivo da Marielle e das minhas companheiras, tínhamos grandes planos. 

Não preciso repetir o quanto esses quatro anos foram desafiadores. Em muitos momentos, foi quase impossível superar o medo e quebrar a tendência à paralisia. Mas eu acredito que nem a nossa vitória ou nossa derrota estão determinadas, só a luta política é capaz de transformar a história e cabe a cada geração cumprir seu papel no tempo que lhe é dado. 

Foi o suficiente? Creio que nunca será, mas fiz o meu melhor ao lado dos meus companheiros e companheiras para que o partido resistisse mesmo em meio à crise que o país atravessa e à nossa própria crise política do PSOL no Rio de Janeiro, em especial após o assassinato da Marielle e da desistência do Freixo em concorrer à Prefeitura em 2020. 

Foi com a força da nossa coletividade que provamos mais uma vez porque o PSOL é um partido necessário e fizemos uma bela campanha à Prefeitura com a companheira Renata Souza e, mais uma vez, saímos das eleições de 2020 como o principal partido da esquerda na cidade com a maior e mais qualificada bancada de vereadores e vereadoras do Rio de Janeiro.

Apostamos na coletivização da gestão partidária, em política de formação, na profissionalização da comunicação do partido, na criação de ferramentas de financiamento militante, em reuniões da direção com núcleos e setoriais do partido, no acompanhamento permanente  da bancada municipal, na relação com movimentos sociais e demais partidos políticos da esquerda e na construção de amplas campanhas do partido. 

Atravessamos o período da pandemia mobilizados e realizamos através da base do partido grandes campanhas de solidariedade, tendo a plataforma Onde Tem Solidariedade como um aglutinador importante de iniciativas. Apresentamos um programa para o enfrentamento da pandemia e nossa bancada municipal foi proponente de importantes projetos de lei tanto para diminuir os impactos da crise sanitária, quanto para combater os efeitos da crise econômica sobre os mais pobres e vulneráveis. Hoje, quando os encontros presenciais voltam a ser possíveis, nossos núcleos e setoriais estão retomando suas atividades com gás total e o que vemos no horizonte é a mesma garra de sempre: venha a conjuntura que vier, o PSOL Carioca estará mobilizado para construir um novo ciclo de lutas e resistências!

Quanto a mim, confesso, vou ter que aprender a viver sem as mil tarefas que envolvem dirigir o PSOL Carioca, mas começo um novo ciclo de lutas e aprendizados no Diretório Nacional do partido, tarefa que assumo com muito orgulho.

Agradeço muito a toda a militância, em especial aos companheiros e companheiras que compartilharam comigo esta gestão e à bancada de vereadores e vereadoras do PSOL Carioca, pela oportunidade de aprender e crescer com vocês na construção do PSOL e do socialismo!

À nova gestão, muito trabalho, cooperação, coletividade e segurança na força do nosso projeto – nunca foi sorte! E que seja um ciclo de muita construção, luta e resistência, que possamos arrancar vitórias e alegrias ao futuro!

Até a próxima trincheira de luta!
Viva o Partido Socialismo e Liberdade!

Marielle Franco, presente!
Chico Oliveira, presente!

*Isabel Lessa é antropóloga e presidiu o PSOL Carioca entre dezembro de 2017 e dezembro de 2021

Foto: André Mantelli